O investigador Brasileiro, Humberto Amorim, no âmbito da sua investigação sobre a viola (Guitarra Clássica) encontrou obras para Viola Solo de meados do sec. XIX em arquivos em Portugal.
Ora existem uma série de factos pertinentes que relacionam esta descoberta com o cavaquinho português modelo urbano:
- O periodo relativo a esta descoberta coincide exatamente com o período “dourado” do cavaquinho português modelo urbano;
- As partituras publicadas nas revistas de viola descobertas referem-se a arranjos de temas operísticos e danças de salão (polkas, quadrilhas, valsas/mazurcas, …): exatamento o repertório típico também encontrado para o mesmo período para o cavaquinho solista modelo urbano dessa mesma época tal como refiro na minha tese de mestrado bem como se pode ver no levantamento/inventário de repertório que na mesma se encontra (Mestrado em Performance Musical, Paulo Bastos, “Cavaquinho Português em Performance Solo” (DECA, UA).
- Ora isto indicia que a viola e o cavaquinho nesta mesma época partilhavam o mesmo contexto performativo, enquanto instrumentos solistas, pelo que descobertas no âmbito da viola (enquanto instrumento solista) deverão ter pontos de contacto com o cavaquinho modelo urbano solista da época, bem como as respectivas fontes de investigação poderão provavelmetne ser igualmente pertinentes de ser investigadas no que diz respeito ao cavaquinho português modelo urbano.
- Esta descoberta indicia que o que era publicado/editado em Portugal era também publicado no Brasil nesta altura, no que diz respeito a este contexto performativo específico (a “moda” das danças de salão urbanas), o que consequentemente indicia que provavelmente a própria prática e contexto performativo decorreria em simultâneo em Portugal e no Brasil neste mesmo período.
- Este caso específico mostra um imigrante da Penisula Ibérica a ter um papel prepondernte no ensino e dissiminação da viola solista em ambientes de danças de salão urbanas, pelo que isto pode indiciar que esta cultura musical com a viola/cavaquinho solistas chegou ao Brasil e lá se ensinou e dissiminou por via desses imigrantes.
“O violonista e professor Humberto Amorim passou os meses de abril e maio deste ano (2019) batendo perna em Alenquer e no Porto, em Portugal..E encheu os pulmões de poeira. Com fôlego pra seguir pistas remotas e faro privilegiado pra investigar, ele vasculhou inúmeros arquivos. E o que parecia impossível veio à tona. Ele garimpou 16 edições do periódico O Guitarrista Moderno, que foi lançado em 1857, no Rio de Janeiro, com a colaboração do músico espanhol Fernando Hidalgo.
Essa descoberta abre um novo campo de estudos na musicologia brasileira. Até então, pensava-se que o primeiro periódico publicado no Brasil era a revista O Violão, lançada em dezembro de 1928. A partir de 2015 algumas pesquisas revelaram a existência de O Guitarrista Moderno. Mas ter acesso ao conteúdo da revista era algo improvável. Os exemplares que Humberto trouxe da viagem a Portugal são os únicos de que se têm notícia até o momento. Não há nada em acervos, sejam públicos ou privados, digitais ou físicos. “
Segundo Humberto, O Guitarrista Moderno foi publicado pela Editora Imperial, Filippone & Tornagui, alcançando reverberação positiva nos jornais da época. A revista publicava geralmente duas partituras de violão em cada número. “Em quase todas as 12 edições levantadas, as peças são para violão solo. Em apenas uma edição, uma delas é uma peça para canto e violão. Ou seja, o foco era o violão solista”, conclui.
Humberto Amorim recolheu edições portuguesas e brasileiras de O Guitarrista Moderno. “A edição brasileira, a mais antiga, lançou ao menos 15 números (mais do que a Revista O Violão, só para comparar). Mas é possível que tenha havido mais edições, uma vez que não sabemos se o último número que eu levantei em Portugal é, de fato, o que encerra a publicação”.
As partituras publicadas na revista são de arranjos de temas operísticos e danças de salão. alguns exemplos sao: A Filha do Regimento (Andante Coral); Meu Bem (Polka); A Soberba (Quadrilha); A Enfadadinha (Schottisch) e La Coquette (Polka-Mazurca). Todas compostas ou arranjadas por Fernando Hidalgo, que por sinal é um personagem alvo das pesquisas de Humberto
Humberto Amorim agradece especialmente ao professor e historiador português Antônio Manuel Nunes e aos violonistas e pesquisadores Tiago Morin e Belquior Guerrero, sem os quais seria impossível resgatar os documentos.“