Entrevistas Paulo Bastos - Mestrado

Entrevista – André Santos – 26/04/2018

Foto por Dário Gomes

IDADE: André Santos

MORADA: Amadora (Lisboa)

NATURALIDADE: Funchal Madeira

 

Que modelo(s) de cavaquinho toca? E com que afinações?

Toco Braguinha. Vario entre a afinação D G B D e D G B E. Geralmente uso a segundo quando tenho de improvisar. Como guitarrista, estou mais habituado a essa afinação.

 

Há quanto tempo toca cavaquinho? Como é que tudo começou? (pequena biografia no que diz respeito/orientada ao cavaquinho)

Há cerca de 2 anos. Começou através de uma tese de mestrado que fiz no Conservatório de Amesterdão sobre os cordofones madeirenses. Já tinha há muito tempo a vontade de explorar estes 3 instrumentos e a minha tese de mestrado pareceu-me a desculpa perfeita para não adiar mais esta vontade de aprofundar o conhecimento.

Logo a seguir a concluir o mestrado fui convidado a participar na Orquestra de Jovens do Mediterrâneo e levei comigo o Braguinha.

Desde então tenho tocado e gravado com os 3 instrumentos, com um maior foco no Braguinha. Gravei duas faixas no disco Vol.2 de Mano a Mano: ‘A Cadeira o Baloiço e A Rosa’ e ‘Bolinha de Papel’. Também gravei recentemente no novo EP da Beatriz Pessoa, na faixa ‘Desconstrução’. É possível ouvir lá ao fundo uma linha tocada no Braguinha. Também gravei alguns cordofones (incluindo braguinha) no disco que ainda vai ser editado do Senhor Vulcão. E por fim, tenho apresentado ao vivo algumas das peças que escrevi na altura do meu mestrado. Peças inicialmente pensadas para serem tocadas a solo, mas que também têm funcionado em banda.

 

O que o fascina no cavaquinho português particularmente? O que o faz apreciar e escolher o instrumento para se exprimir artisticamente?

Gosto do timbre. É quase como se fosse um saxofonista tenor e fosse buscar o soprano. Gosto muito de tocar melodias neste instrumento e ter um registo mais feminino. As melodias ganham outra vida! Também gosto das possibilidades rítmicas do rasgado que não são tão fáceis de executar na guitarra.

 

Quais as suas referências e influenças musicais mais importantes na abordagem ao cavaquinho? E qual a sua importância?

O meu interesse despertou através dos tocadores madeirenses: Guilherme Órfão, Roberto Moniz e Roberto Moritz. Depois comecei a explorar de forma geral os cordofones – charango, bandolim, etc etc. –  e não especificamente o cavaquinho. Gosto muito do grupo C4 Trio e de músicos brasileiros como o Jacob do Bandolim ou o Hamilton de Holanda. Nenhum deles toca cavaquinho mas de alguma forma me influenciaram. E claro que toda a minha bagagem como guitarrista me influencia inevitavelmente.

 

Que outros instrumentistas/tocadores solistas de cavaquinho conhece que considera relevantes?

(Entenda-se como solista o instrumentista SOLISTA que faz um concerto do inicio ao fim em que o Cavaquinho é o ponto central/solista ou o instrumentista que tenha editado/gravado um ou mais CDs em que o cavaquinho é o ponto central/solista em todas as músicas ou quase na totalidade delas (quando se refere ponto central/solista pretende-se dizer instrumento que toca a solo sozinho ou que tocando em grupo faz a parte mais relevante e importante da música, ou seja o que tipicamente se chama a melodia/parte principal).

Como disse anteriormente, não estou super por dentro do assunto. Mas, os nomes que citei na resposta acima, mais o Júlio Pereira e o Luís Peixoto, são nomes incontornáveis!

 

Que associações conhece ligadas à música onde o cavaquinho seja um interveniente de alguma forma? Quais?

Xarabanda.

 

Que repertório utiliza nos seus projetos em que inclui cavaquinho? Desenvolveu algum repertório original/arranjos para Cavaquinho Português? Pode por favor enumerar aqui? Pode também fornecer partituras ou áudio ou vídeo ou link de internet para estes elementos multimédia?

https://youtu.be/106Eil78sSM

https://youtu.be/jHgEDJzcApU

https://youtu.be/vYnIFSnNrGU

https://youtu.be/2__FlTPlklI

https://youtu.be/XVzKKkX9Yg0

 

Acha viável uma carreira de músico solista especializado e fazendo carreira apenas e só no cavaquinho português (sem necessitar de tocar mais nenhum instrumento)?

Acho perfeitamente possível, embora não seja o meu caso. Acredito que qualquer músico, em qualquer instrumento, desde que o faça muito bem e de forma

honesta, tem carreira viável!

 

Quais as dificuldades que teve (ou acha que teria) ao tentar ser um músico solista de cavaquinho?

Não se aplica a mim.

 

Quais as facilidades e vantagens que considera ter (ou que pensa que teria) como músico solista de cavaquinho?

Sinto que estamos numa fase em que há uma curiosidade e um certo afecto por estes instrumentos portugueses. E, como disse anteriormente, se houver quem o faça bem, há sempre um orgulho inerente e um prazer muito grande em ouvir.

 

Considera que faz sentido explorar o cavaquinho português como instrumento solista? Porquê?

Não vejo porque não e já há quem o faça. Tanto a solo ou em banda, o cavaquinho é um instrumento que canta e que se destaca, por isso tem tudo o que é preciso para tal.

 

Que acha da utilização da nomenclatura Cavaquinho Português para de forma agregadora denominar e agrupar todos os modelos de cavaquinho português (modelo minhoto e diferentes modelos urbanos do continente e ilhas)?

Pois, é uma questão que pode ser complexa. Acho que pode funcionar da mesma

forma como funciona para as Violas Portuguesas, que denominam as Violas de Arame portuguesas. Mas há quem seja muito esquisito em relação a essas questões. E até já discuti com pessoas porque chamei ‘A’ Braguinha e não ‘O’ Braguinha. No fundo,

no fundo, o que interessa é que haja cada vez mais gente a tocar este instrumento, com diferentes abordagens e visões.

 

Como vê o futuro do cavaquinho português enquanto instrumento solista?

Risonho!

 

Que projetos tem para o futuro no que diz respeito ao cavaquinho Português?

Em concreto, vamos editar em breve um projecto de música tradicional madeirense chamado Mutrama, onde gravo algumas coisas nos cordofones. E actualmente, já que os cordofones fazem parte da minha parafernália, sempre que faz sentido e a música pede, levo-os comigo.

 

Que sugestões tem para dar?

Desejo uma abertura de mente cada vez maior. Sem preconceitos e barreiras e que se explore este e outros instrumentos tradicionais de todas as formas possíveis: com afinações estranhas, dedos ou palheta, nos mais diversos estilos musicais!

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