Entrevistas Paulo Bastos - Mestrado

Entrevista – Pedro Damasceno – 26/03/2018

NOME: Pedro Damasceno

MORADA: Coimbra

NATURALIDADE: Coimbra

 

Que modelo(s) de cavaquinho toca? E com que afinações?

A afinação que utilizo é DAGC.

Quanto a cavaquinhos, tenho vários, mas o que uso mais atualmente é um machinho feito pelo Fernando Miraldo. Tenho ainda um do modelo minhoto feito pelo Fernando Meireles, e outro também minhoto comprado na Olímpio Medina (loja de instrumentos musicais em Coimbra) em 1984, com boca de raia e um som impressionante, que foi o meu primeiro cavaquinho. De resto tenho mais alguns, mas de muito menor qualidade.

 

Há quanto tempo toca cavaquinho? Como é que tudo começou? (pequena biografia no que diz respeito/orientada ao cavaquinho)

Tenho cavaquinho desde há muito tempo – o meu primeiro cavaquinho foi-me oferecido pelo meu avô, António Marques de Oliveira, quando tinha 6 anos. Só comecei a tocar e a utilizar a sério o instrumento a partir dos 18 anos, na altura com a afinação DBGG, e mais tarde, já com 19-20 anos comecei a ter aulas com o Amadeu Magalhães na Secção de Fado da AAC, numa primeira fase, e mais tarde no GEFAC. É a partir desta altura que passo a utilizar o cavaquinho como um dos meus principais instrumentos, e como um instrumento solista em todos os grupos em que participei até hoje (Grupo de Cordas da SFAAC, GEFAC, Borda d’Água e Diabo a Sete).

 

O que o fascina no cavaquinho português particularmente? O que o faz apreciar e escolher o instrumento para se exprimir artisticamente?

Fascina-me a possibilidade de executar em simultâneo a melodia e a harmonia, além de que a técnica de rasgado que utilizo ainda acrescenta a percussão. A escala rasa ao tampo permite que o rasgado e também os dedilhados assumam uma sonoridade muito particular. Até melodias simples, que noutros instrumentos não suscitam grande interesse, ganham uma dimensão diferente e muito mais espetacular. E, claro, o contraste entre o pequeno tamanho e a sonoridade forte e impositiva.

 

Quais as suas referências e influenças musicais mais importantes na abordagem ao cavaquinho? E qual a sua importância?

Naturalmente o Amadeu Magalhães é o mais decisivo, até porque foi com ele que aprendi. Como instrumentistas que gosto de ouvir, e ouço há muitos anos, saliento o Júlio Pereira, o Xico Malheiro e o Luís Peixoto.

 

Que outros instrumentistas/tocadores solistas de cavaquinho conhece que considera relevantes?

(Entenda-se como solista o instrumentista SOLISTA que faz um concerto do inicio ao fim em que o Cavaquinho é o ponto central/solista ou o instrumentista que tenha editado/gravado um ou mais CDs em que o cavaquinho é o ponto central/solista em todas as músicas ou quase na totalidade delas (quando se refere ponto central/solista pretende-se dizer instrumento que toca a solo sozinho ou que tocando em grupo faz a parte mais relevante e importante da música, ou seja o que típicamente se chama a melodia/parte principal).

Além dos mencionados no ponto anterior, o Daniel Pereira Cristo, o José Amorim, o Gonçalo Sérgio Silva, o João Vila, entre outros.

 

Que associações conhece ligadas à música onde o cavaquinho seja um interveniente de alguma forma? Quais?

No Colégio da Imaculada Conceição, em Cernache, o professor Rui Pinto leciona cavaquinho aos alunos de Educação Musical (5º e 6º ano), além da habitual flauta de bisel, fazendo um grande serviço na promoção deste instrumento entre os jovens alunos. De resto, nada que não seja já sobejamente conhecido.

 

Que repertório utiliza nos seus projetos em que inclui cavaquinho? Desenvolveu algum repertório original/arranjos para Cavaquinho Português? Pode por favor enumerar aqui? Pode também fornecer partituras ou áudio ou vídeo ou link de internet para estes elementos multimédia?

No grupo Diabo a Sete utilizo o cavaquinho como solista, inclusivamente em temas meus compostos para o cavaquinho. No álbum Parainfernália o tema “Dança dos Camafeus – Concerto em Ré menor para Sanfona e Cavaquinho”; no álbum TarAra os temas “Bicho do mato” e “Abaladiça” e no álbum Figura de gente os temas “Outono Embargado” e “Dança das Fritilárias”. O cavaquinho tem ainda grande destaque noutros temas dos álbuns referidos. Podes ouvir os dois primeiros discos no bandcamp e o terceiro no spotify. Se me deres a tua morada terei todo o gosto em enviar-te os álbuns.

 

Que técnicas utiliza no cavaquinho português? Quais das mesmas são as que utiliza com mais frequência?

Rasgado, vários tipos de dedilhado e ponteado. A que uso mais frequentemente é o rasgado.

 

Considera que o Cavaquinho Português é um instrumento levado suficientemente a “sério” nos diferentes meios musicais?

Agora já começa a ser, mas só em alguns meios mais específicos, nomeadamente os que são mais próximos à música tradicional. Ainda assim, e na minha perspetiva, subsiste ainda a ideia de que é um instrumento de categoria inferior, por vezes também pela forma pouco cuidada como é tocado e construído.

 

Acha viável uma carreira de músico solista especializado e fazendo carreira apenas e só no cavaquinho português (sem necessitar de tocar mais nenhum instrumento)?

Não sei. Faço votos para que consigas.

 

Quais as dificuldades que teve (ou acha que teria) ao tentar ser um músico solista de cavaquinho?

Não tenho na música a minha única profissão, por isso as dificuldades que sinto são acima de tudo relacionadas com o pouco tempo que tenho disponível para estudar e criar. Julgo que, à semelhança do que se passa noutros instrumentos com públicos muito específicos, as oportunidades para tocar, de forma devidamente remunerada, não são muitas. Não me parece é que as dificuldades advenham da falta de repertório. Basta ouvir o disco “O Cavaquinho do Amadeu” para perceber a versatilidade do instrumento.

 

Considera que faz sentido explorar o cavaquinho português como instrumento solista? Porquê?

Claro que sim. Porque o cavaquinho tem essa vocação. A sua sonoridade estridente permite-lhe assumir uma posição de destaque quando tocado com outros instrumentos, e, como referi anteriormente, com a técnica apropriada é possível fazer soar melodia, harmonia e percussão em simultâneo.

 

Que acha da utilização da nomenclatura Cavaquinho Portugues para de forma agregadora denominar e agrupar todos os modelos de cavaquinho português (modelo minhoto e diferentes modelos urbanos do continente e ilhas)?

Não serei a pessoa indicada para responder a questões de terminologia, por nunca ter explorado devidamente o assunto, mas parece-me que a designação de Cavaquinho Português será consensual, independentemente das dúvidas relativamente à origem do nome.

 

Como vê o futuro do cavaquinho português enquanto instrumento solista?

Acho que atualmente, e desde os trabalhos pioneiros do Júlio Pereira e do Xico Malheiro, entre outros, o cavaquinho está servido de alguns bons tocadores e músicos que o têm explorado de várias formas, criando  certamente um forte impacto nas novas gerações de músicos que poderão vir a apaixonar-se também por este instrumento.

 

Que projetos tem para o futuro no que diz respeito ao cavaquinho Português?

Continuar a tocar este instrumento que tanto gozo me dá, e continuar também a compor com o cavaquinho. O som do cavaquinho é e continuará a ser uma das marcas do grupo que integro, os Diabo a Sete.

 

Que assuntos gostaria de ver estudados sobre o cavaquinho português?

A expansão do cavaquinho, à boleia da expansão e migração dos portugueses, parece-me interessante, e não sei até que ponto já terá sido abordada. A questão do impacto do trabalho dos músicos que começaram a usar o instrumento nos anos setenta (Júlio Pereira, Xico Malheiro…) e de que forma definiram as abordagens atuais ao cavaquinho.

One Response

  1. Olá Pedro

    gostei muito de tudo o que li sobre o belo instrumento, que tanto prazer me dá a construir!! tenho muitos em casa e preciso de os mostrar ao Pedro, pois não faço dois iguais. e teem o seu interesse. Tambem preciso de vender alguns, pelo que se o amigo tiver alunos que precisem, agradeço.
    grande abraço
    F. FENA

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