Entrevistas Paulo Bastos - Mestrado

Entrevista – João Vila – 30/04/2018

Foto por Jorge Ferreira

 NOME: João Vila

MORADA: Coimbra

NATURALIDADE: Sé Nova (Coimbra)

 

Que modelo(s) de cavaquinho toca? E com que afinações?

Toco cavaquinho na Afinação Reentrante: D A G C (agudo para o grave) ou exactamente um tom acima, durante alguns anos toquei cavaquinho na Afinação D B G G (agudo para o grave), mas abandonei esta afinação, por ouvir muito Júlio Pereira e Brigada Victor Jara

Toco também Braguinha na afinação D G B D (agudo para o grave)

 

Há quanto tempo toca cavaquinho? Como é que tudo começou? (pequena biografia no que diz respeito/orientada ao cavaquinho)

Toco cavaquinho desde os meus 5 anos, nasci em 1978, acompanhei a minha mãe muitos anos no Grupo Folclórico da Pampilhosa do Botão e integrei o Grupo de cavaquinhos de Barcouço – concelho de Mealhada. Aprendi os primeiros acordes com o Ti Zé Calisto de Souselas na afinação D B G G (agudo para o grave); na altura, enquanto acompanhava os temas do repertório do grupo, reparei que a maior parte do repertório estavam em Ré Maior, então, subi um Tom ao cavaquinho pois escusava de fazer “barras”; mais tarde vim a saber que era comum nos tocadores sobretudo no norte de Portugal.

Como comecei a estudar música muito cedo nomeadamente piano, o cavaquinho foi me oferecido para tocar no grupo de folclore; era um cavaquinho do Construtor Venâncio de Braga. o meu pai ofereceu-me o meu primeiro disco ainda em Vinil, “Cádoi” de Júlio Pereira, adorei esse disco, e claro, fui colecionando toda a discografia do Julio Pereira. Na verdade, nunca gostei muito de “Folclore”, mas adorava música tradicional e sobretudo a sua fusão com música mais contemporânea.

Nos anos 90, já estudava Piano em Coimbra e os meus pais adoravam a Brigada Victor Jara, o primeiro instrumentista que vi a tocar cavaquinho de forma que me agradava imenso foi o Luis Garção Nunes, os meus pais eram fãs deste grupo e seguiam as suas atuações, eu tinha vários discos deles. Num desses concertos, a primeira parte foi feita pelos Realejo liderados pelo Fernando Meireles e Amadeu Magalhães, foi na altura em que entrei no Conservatório de Música de Coimbra para o curso Complementar em Guitarra Portuguesa, fui dos primeiros alunos, como o Professor Paulo Soares (JóJó). Paralelamente ao meu estudo musical no Conservatório de Música de Coimbra que completei na sua totalidade, fiz a licenciatura em Professor de Educação Musical do Ensino Básico e o Mestrado em Ensino de Educação Musical no Ensino Básico na Escola Superior de Educação de Coimbra. Tive ainda aulas com Amadeu Magalhães no GEFAC (Grupo Etnografico e Folclórico da Associação Académica de Coimbra) e na Secção de Fado da Associação Académica de Coimbra.

 

O que o fascina no cavaquinho português particularmente? O que o faz apreciar e escolher o instrumento para se exprimir artisticamente?

O instrumento veio ter comigo de forma natural, embora tenha andado muito por Coimbra, os meus pais são oriundos de Penedono – Beira Alta, e aí as pessoas tocam as “rusgas”; basicamente não existe o “folclore” como o conhecemos, as pessoas juntam-se nas ruas em redor da igreja de forma espontânea para tocar e dançar no “terreiro”. Eu gostava muito, basicamente acompanhava o acordeão, a concertina e vozes com o cavaquinho e, como era muito novo as pessoas gostavam; também durante 10 anos dei aulas em várias IPSS´s tanto a crianças como a idosos e nas AECs (Actividades de Enrequecimento Curricular) na região da Bairrada e por o instrumento ser pequeno acompanhava-me para todo o lado, sendo usado por mim nas aulas.

 

Quais as suas referências e influenças musicais mais importantes na abordagem ao cavaquinho? E qual a sua importância?

Esta questão respondo no pronto n.º 5

 

Que outros instrumentistas/tocadores solistas de cavaquinho conhece que considera relevantes?

(Entenda-se como solista o instrumentista SOLISTA que faz um concerto do inicio ao fim em que o Cavaquinho é o ponto central/solista ou o instrumentista que tenha editado/gravado um ou mais CDs em que o cavaquinho é o ponto central/solista em todas as músicas ou quase na totalidade delas (quando se refere ponto central/solista pretende-se dizer instrumento que toca a solo sozinho ou que tocando em grupo faz a parte mais relevante e importante da música, ou seja o que tipicamente se chama a melodia/parte principal).

Gosto muito do Júlio Pereira, Amadeu Magalhães, mas também gosto muito dos músicos madeirenses, Roberto Moniz, Paulo Esteireiro, Roberto Moritz e Guilherme Órfão.

 

Que associações conhece ligadas à música onde o cavaquinho seja um interveniente de alguma forma? Quais?

Conheço a Associação Museu Cavaquinho, da qual sou sócio, e tenho ajudado a dar a conhecer muitos construtores de instrumentos.

Também o Gefac em Coimbra que têm um papel importante há mais de 50 anos e a Secção de Fado da Associação Académica de Coimbra.

 

Que repertório utiliza nos seus projetos em que inclui cavaquinho? Desenvolveu algum repertório original/arranjos para Cavaquinho Português? Pode por favor enumerar aqui? Pode também fornecer partituras ou áudio ou vídeo ou link de internet para estes elementos multimédia?

Toco o repertório que me foi transmitido, claro está à minha maneira, faço alguns arranjos; estou a preparar um trabalho a solo somente com originais que tenha como protagonista o Cavaquinho, se não for editado por nenhuma editora irei disponibilizar tanto os áudios como partituras /tablaturas do repertório por mim composto de forma Livre e Gratuita, para ajudar a prestigiar o instrumento.

https://www.youtube.com/watch?v=HoBNNdXo57A&feature=youtu.be

 

Que técnicas utiliza no cavaquinho português? Quais das mesmas são as que utiliza com mais frequência?

Uso o Rasgueado, Ponteado e Dedilhado.

 

Considera que o Cavaquinho Português é um instrumento levado suficientemente a “sério” nos diferentes meios musicais?

Tem vindo a fazer o seu caminho, cada vez mais aparecem novos músicos, as redes sociais ajudam a sua divulgação; embora, seja considerado um instrumento apenas de acompanhamento

 

Acha viável uma carreira de músico solista especializado e fazendo carreira apenas e só no cavaquinho português (sem necessitar de tocar mais nenhum instrumento)?

Não existem impossíveis, é um instrumento que dá tanto trabalho como qualquer outro.

 

Quais as dificuldades que teve (ou acha que teria) ao tentar ser um músico solista de cavaquinho?

Um músico solista de cavaquinho terá tanta dificuldade como um músico solista de qualquer outro instrumento.

 

Quais as facilidades e vantagens que considera ter (ou que pensa que teria) como músico solista de cavaquinho?

O facto das pessoas olharem para um instrumento tão pequeno e estarem habituadas a ver maioritariamente grupos de cavaquinhos a tocar com muita gente, quando vêm uma só pessoa a tocar ficam sempre bastante surpreendidas

 

Considera que faz sentido explorar o cavaquinho português como instrumento solista? Porquê?

Sim, porque faz parte da nossa cultura nacional, europeia e atlântica, andamos por todo o mundo e transportamos o instrumento por todo o lado, o que não significa que em Espanha ou outros países europeus não tenha acontecido o mesmo.

 

Que acha da utilização da nomenclatura Cavaquinho Português para de forma agregadora denominar e agrupar todos os modelos de cavaquinho português (modelo minhoto e diferentes modelos urbanos do continente e ilhas)?

Portugal é um país pequeno, mas cheio de diferenças, e isso é bom; é como a língua têm muitas pronúncias e, como professor de Educação Musical, gostaria de prestar a minha homenagem aos colegas da Madeira que conseguiram colocar os cordofones nas escolas, é um exemplo e uma inspiração,

 

Como vê o futuro do cavaquinho português enquanto instrumento solista?

Penso que cada vez mais vão aparecer bons executantes, já está a acontecer o instrumento aparecer em contexto da música pop rock mas também em ambientes de música mais erudita.

 

Que projetos tem para o futuro no que diz respeito ao cavaquinho Português?

Tenciono gravar um trabalho com cerca de 12 temas para cavaquinho, estou neste momento a trabalhar nisso

 

Que assuntos gostaria de ver estudados sobre o cavaquinho português?

Penso que a comunidade académica já está a debruçar-se sobre o instrumento, tanto a nível nacional, continente e ilhas, como a nível internacional; irão certamente aparecer muitos estudos, estou certo disso

 

Que sugestões tem para dar?

Que todos possam dar o melhor de si mesmo, como diz o povo: “quem toca o que sabe a mais não é obrigado”

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